Você sabia que cerca de 50% das empresas fecham as portas nos primeiros anos de vida? Os mais prejudicados nesse cenário são os microempreendedores, que de 3 em 10 MEIs fecham as portas nos primeiros cinco anos de existência.
O que causa essas altas taxas de mortalidade dos negócios brasileiros? É tudo culpa da crise? Para entender mais sobre por que tantas empresas fecham as portas nos primeiros anos de vida, continue lendo!
Taxa de mortalidade das empresas no Brasil
Em um estudo do Sebrae em 2008 mostrou que a gestão empresarial das micro e pequenas empresas nos 10 anos anteriores não melhorou e 50% dos negócios fechavam as portas nos primeiros 4 anos.
Agora, em 2021, o Sebrae realizou novas pesquisas sobre a mortalidade dos negócios, o cenário não melhorou. Aliás, a pesquisa mostra que os MEIs apresentam a maior taxa de mortalidade nos primeiros cinco anos, com cerca de 30% fechando as portas, ou seja, 3 a cada 10 MEIs.
Por outro lado, as microempresas têm uma taxa de mortalidade de 21,6% e as de pequeno porte de 17%. A tendência de maior sobrevivência quanto maior o porte é justificado, segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, devido ao maior preparo antes de abrir um negócio e, muitas vezes, os empresários optam por empreender por oportunidade e não necessidade.
“Entre os microempreendedores individuais há uma maior proporção de pessoas que estavam desempregadas antes de abrir o negócio e que, por isso, se capacitam menos e possuem um menor conhecimento e experiência anterior no ramo que escolheram, o que afeta diretamente a sobrevivência do negócio”, afirma Melles.
Essa afirmação pode corroborada com o estudo do Sebrae, que mostra que 7% das empresas que fecham as portas por falta de lucro, 20% por falta de capital, mas o dado mais alarmante é que quase 50% dos pequenos empresários nem mesmo sabiam dizer se tinham lucro ou prejuízo.
Além da falta de capacitação e gestão profissionalizada, outro fator para os MEIs terem uma taxa de mortalidade tão alta é a facilidade de abertura e fechamento desse tipo de negócio. Afinal, tanto a abertura quanto o fechamento são gratuitos e podem ser feitas online em poucos minutos.
No recorte por setor, o ranking da taxa de mortalidade em cinco anos fica:
- Comércio (30,2%);
- Indústria da transformação (27,3%);
- Serviços (26,6%);
- Indústria extrativa (14,3%);
- Agropecuária (18%).
Pandemia e acesso ao crédito
A pandemia, sem dúvidas, trouxe diversos impactos negativos aos negócios, especialmente os micros e pequenos empreendimentos. Ao passo que quanto menor o porte do negócio, maior sua dificuldade de conseguir crédito para capital de giro e superar as dificuldades desse período.
Segundo o Sebrae, das empresas que fecharam as portas, 34% dos empreendedores acreditam que o acesso ao crédito poderia ter evitado a falência. Ao passo que apenas 7% dessas empresas solicitaram o crédito e tiveram sucesso.
Quais os principais motivos para as empresas fecharem as portas?
1. Inexistência de um plano de negócios
Como mencionado anteriormente, a falta de preparo é um dos principais fatores que leva tantas empresas fecharem as portas nos primeiros anos de vida.
Para o Sebrae, o plano de negócio é crucial para diminuir os riscos e incertezas, através da definição clara dos objetivos e quais passos devem ser dados. É com esse planejamento que o empreendedor pode saber se o projeto é viável ou não, antes mesmo de investir e abrir seu CNPJ. Nesse documento é definido aspectos importantes da empresa, como:
- Visão e missão;
- Forma jurídica e competência dos sócio;
- Produtos ou serviços que serão comercializados;
- Modelo de negócios, objetivos e metas;
- Plano de marketing e vendas;
- Plano financeiro.
Outro ponto importante levantado pelo Sebrae é a importância das pesquisas de mercado. Aliás, essa pesquisa deve ser feita antes do plano de negócios. Afinal, o empreendedor precisa identificar uma necessidade do público e desenvolver uma solução para isso, em vez de querer inovar em algo que as pessoas não se interessam.
É durante a etapa de pesquisa que descobrimos como funciona o mercado, quais as oportunidades de negócio, quem são os concorrentes e suas práticas, quais os diferenciais mais importantes para os consumidores, entre outros dados essenciais para um negócio de sucesso.
Entretanto, muitos empreendedores acabam negligenciando esse processo, achando que tanto esforço só para planejar é um desperdício de tempo e recursos. Por outro lado, é essa mesma mentalidade que faz com que tantas empresas fecham as portas nos primeiros anos de vida.
2. Falta de separação entre finanças pessoais e empresarial
Embora pareça trivial, as pesquisas do Sebrae mostram que apenas um terço dos MEIs possuem conta PJ, ao passo que 10% dos pequenos empreendedores nem mesmo possuem uma conta bancária.
Para o CEO do Assas, plataforma digital de gestão financeira, Piero Contezini, esse dado denuncia a falta de inclusão financeira no Brasil. Contudo, Piero comenta que diversas fintechs já estão trabalhando para facilitar o acesso aos serviços financeiros e reduzir a parcela da população desbancarizada.
Durante essa jornada de inclusão financeira, é crucial lembrar os empreendedores de que a separação das finanças pessoais e empresariais é crucial para o bom controle financeiro.
Quando há confusão entre o patrimônio do empreendedor e da empresa, há diversos riscos:
- Problemas com a Receita Federal, caindo na “malha fina” e até ter que pagar multas pesadas;
- Não há como medir com confiança a saúde financeira da empresa;
- Muitas vezes a falta de separação leva o empreendedor a usar os recursos de caixa para pagar despesas pessoais causando problemas no fluxo de caixa (que é um dos principais fatores para as empresas fecharem as portas!);
- Reduz os recursos financeiros que o negócio poderia utilizar para reforçar o caixa ou investir no crescimento; entre outras dificuldades.
3. Descontrole financeiro e administrativo
Atualmente há centenas de fontes de informações e cursos de capacitação empresarial, gratuitos e pagos. No Youtube, por exemplo, é possível encontrar vídeo-aulas sobre praticamente todos os assuntos para gestão de negócios.
Apesar de tantas informações gratuitas disponíveis, além do trabalho do Sebrae, mais de 70% dos MEIs nunca fizeram um curso ou treinamento na área de gestão financeira ou administrativa.
Como já destacamos, o problema da má gestão financeira é grave, mas pode ser facilmente solucionado com o hábito de analisar as entradas e saídas rotineiramente.
Conforme comenta Contezini, muitos empreendedores usam a falta de tempo ou que “tem o negócio na cabeça” como desculpa para negligenciar a administração. Entretanto, sempre acabam se perdendo nos ganhos e despesas, impedindo ter uma previsão correta do faturamento. O resultado? Fecham o mês no vermelho.
Além disso, com tantas ferramentas de gestão gratuitas e outras mais avançadas com preços acessíveis, não há mais desculpas, mesmo para pequenos negócios, para gerenciar a empresa de maneira informal.
As vantagens de vender pela internet trouxe diversos benefícios, mas acirrou a competição. Para Raphael Machado, coordenador Nacional de Vendas da Jiva Gestão Empresarial, quem sai na frente é aquele que investe na qualidade dos produtos e serviços, além da profissionalização da gestão e otimização dos recursos.
Raphael ainda reforça que as fornecedoras desses sistemas de gestão empresarial, além de auxiliar na organização de processos e controle, também auxiliam na tomada de decisões e possuem embutido na tecnologia treinamentos sobre os conceitos da administração. “É como juntar o útil ao agradável: tecnologia + treinamento que juntos vão certamente contribuir para reduzir a taxa de mortalidade dos micro e pequenos negócios.
4. Não ter foco no cliente
Um fator pouco comentado, mas que também tem grande importância na sobrevivência das empresas, é a busca por inovação sem ter o cliente como foco.
Assim, os empreendedores criam novos produtos e serviços, mas que não atendem alguma necessidade ou problema das pessoas. A famosa “inovação pela inovação”.
Como destacado no primeiro item dessa lista, a pesquisa de mercado é crucial para criar avaliar a viabilidade do negócio. Às vezes a ideia parece maravilhosa e mega-lucrativa, mas na prática não possui demanda suficiente.
Nesse sentido, a melhoria contínua de produtos e serviços é essencial. A inovação e diferenciação contribuem significativamente para a sobrevivência e sucesso de qualquer empresa. Isso também deve ser incorporado no atendimento e relacionamento com os clientes.
5. Desequilíbrio do Fluxo de Caixa
A má gestão financeira e ausência do controle de fluxo de caixa já foram levantadas neste artigo em diversos momentos. Contudo, devido à sua imensa participação no motivo de que tantas empresas fecham as portas, esse assunto merece um tópico específico.
De acordo com o Sebrae, 50% das micro e pequenas empresas que fecharam as portas foram por causa da inadimplência, falta de capital de giro e falta de lucro.
Esses são problemas que um bom controle do fluxo de caixa poderia resolver. Apesar deste ser um tópico visto como “complexo” pelos empreendedores novatos, o conceito é bem simples: controle e planejamento das entradas e saídas de dinheiro do caixa da empresa.
Nesse sentido, a gestão do fluxo de caixa envolve as seguintes rotinas:
- Registro das entradas e saídas;
- Acompanhamento do vencimento das contas a receber e a pagar;
- Previsão de faturamento e visualização de quando as contas devem ser pagas;
- Organizar pagamentos para evitar “furos” no caixa (por exemplo, não ter dinheiro no dia de vencimento de uma conta, mas ter na semana seguinte).
Ou seja, manter o controle do fluxo de caixa não é nada complexo, tampouco demorado. Com ajuda de softwares de gestão, muitas dessas rotinas podem ser automatizadas ou, pelo menos, facilitadas. Além disso, o software utiliza dos registros para gerar relatórios financeiros que dão uma visão completa da saúde financeira da empresa.